domingo, 29 de maio de 2011

A morte me rodeia

                                                        
Entre os últimos meses de 2010 e os primeiros de 2011, a morte vem levando ou ameaçando pessoas  queridas e próximas a mim.Em setembro do ano passado, precisamente no dia 15, meu marido sofreu nove paradas cardíacas; passou dez dias na UTI e por um milagre de Deus, sobreviveu.Foi uma provação, um teste do que viria a acontecer em janeiro deste ano.No dia 25, meu pai, o qual temia perdê-lo desde criança, veio a falecer, depois de seis dias na UTI.Foi sem dúvida, o dia mais triste da minha vida.De certa forma, eu sabia que embora com apenas 65 anos, esse ano ele iria me deixar.Tive essa sensação, nos dias que passara lá entre dezembro e janeiro.Eu queria agradá-lo; sentia que ele precisava saber o quanto eu o amava.Então, fazia-lhe comida, ajudava na limpeza da casa.Cortei-lhe as unhas dos pés, fora o fato de que, por telefone, teria dito-lhe a única vez que eu o amava.No dia que viemos embora, ele estava bonito com a camisa que eu lhe dera, com uma aparência saudável.Beijei-lhe o rosto e disse “ Pai, fica com Deus”.Já no caminho de volta, com os olhos marejados  desabafei com meu marido – Sinto que vou perder o meu pai. E infelizmente, eu estava certa.
No funeral do meu pai, um amigo ficou de longe observando tudo, mas não tivera coragem de se aproximar. Respeitosamente se afastou e me lançou um olhar de “sinto muito”. Senti aquilo como uma despedida, não entendi o porquê. Dez dias depois, descobri- falecera  num acidente de carro ao voltar da escola onde lecionava à noite.
No final de março, uma amiga muito querida, a qual eu sempre dava carona, quase morreu de uma infecção súbita e  generalizada.Permaneceu muitos dias no hospital.Hoje está em casa, mas não ainda totalmente recuperada.
Semana passada, durante a aula no 1º ano do Ensino Médio, li um conto pra sala,que particularmente, considero-o de extrema beleza e sensibilidade : O Gaetaninho  ; do autor Antônio Alcântara Machado, cujo tema é o sonho de um menino pobre,filho de imigrantes italianos, que era o de andar de carro e só o consegue quando é atropelado e morre.Na aula da última sexta-feira, achando-a um tanto monótona, comecei uma brincadeira com os alunos .Eu cantava um verso, escolhia um aluno e pedia para que o mesmo continuasse a música.Estava muito divertida a brincadeira, todos estavam alegres e, como amo Legião Urbana, entonei “É preciso amar “...E o coro foi recíproco : “as pessoas como se não houvesse amanhã”.Foi um sentimento tão bom e coletivo de alegria, leveza , liberdade. Em meio àqueles rostos adolescentes, um, em especial se destacava por tamanha espontaneidade vívida estampada em seu sorriso- o de André. Conheci-lhe este ano e já parecia que dera aula para ele a vida toda. De risada fácil, bonzinho, legal e educado, não era o melhor aluno; mas um ser humano lindo. Hoje, domingo, 29 de maio de 2011, depois do café, fui checar meus e-mails e me deparei com a trágica notícia de que André tinha sido atropelado e  morto na noite de ontem.
Passei o resto do domingo velando seu corpo. No seu último leito, aquele menino brincalhão, depois de muitas travessuras ,  parecia dormir.Levei-lhe um vaso de lírio laranja – a cor da alegria , esta que fora muito bem representada por André, em sua curta, mas inesquecível passagem nesta vida.Estou triste, muito triste, principalmente pela família, pela mãe.Mas, no meu íntimo, sei que ele está bem e em paz, e que, ele levou de mim algo de bom  e que a sua morte estava ligada a mim, de alguma forma.Não sei como, mas estava.
Enfim, Deus está tentando me mostrar o valor da vida, das pessoas, dos momentos, de tudo. Será essa a relação da morte comigo? Ou há mais coisas que eu não entendo ou não consigo enxergar? Não sei, por enquanto, vou tentando  viver a máxima de Renato Russo:” É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã; pois se você parar pra pensar, na verdade não há”.

                                                                                                     Izabel Cristina dos Santos