sexta-feira, 18 de julho de 2008

1968-1970

1968-Vim ao mundo no dia seis de março, numa segunda-feira,por volta das 8 horas da matina.Nasci num sítio, mais precisamente numa granja recém-preparada para minha chegada triunfal. Com a ajuda de uma parteira, mamãe deu-me a luz aos 20 anos.Apaixonada por papai, um “Elvis” da época, casou-se grávida de mim somente aos sete meses de gravidez.Não sei não, mas acho que a coitada usou o truque da barriga.Enfim,vivi meus dois primeiros anos neste sítio com meus pais e a grande família paterna.Eram dos meus avós, o tal sítio.O clã rural era formado por meu avõ, homem alto, claro,altivo e de lindos olhos azuis,os quais infelizmente não herdei; minha avó,descendente de índios,baixinha,troncuda,cara fechada; uma mulher forte e batalhadora.Família machista, rude e tradicional.Segundo minha mãe, eu era paparicada por eles e isso, naquela família era algo para se ter muito orgulho.
1970-Fomos morar num lugar ermo, onde meus pais arrendaram terra em sociedade com meus tios para plantar milho.A casa era de barro, tudo muito simples.Do lado de cima, roça; na parte inferior da casa, um quintal branquinho que mamãe varria religiosamente todos os dias,um batedor de roupas e uma fornalha.A poucos metros dali, mata cerrada.Até uma alcatéia de lobos apareceu por lá um dia, botando muito medo em mim e em mamãe.
Sorte que a 500 metros indo á direita, morava meu Tio Tó, irmão de papai, casado com a Tia Nilza e pai daquela que fora a grande companheira de parte da minha infância- a Sirlei- magrinha, branquinha, cabelos lisos.Não sei por que cargas d”água me achava superior a ela, mas enfim, era ela quem brincava de casinha comigo e deixou com que eu expressasse meu recente talento para cortar cabelos.Tia Nilza vinha há meses cuidando para que o cabelo da filha crescesse para tirar retrato.Um dia antes do grande feito, peguei uma tesoura, que mais parecia a de um jardineiro e escondidinhas atrás da casa,concluí com mérito a minha arte- a franjinha da Sirlei que até então era comprida e lisinha, agora tinha um toque moderno, cortado na diagonal deixando quase toda a testa á mostra.,exibindo um leve ziguezague.Levei uma certa bronca da minha tia, da minha mãe, não me lembro.
Naqueles tempos,nos padrões da minha família eu era “mimada”, pois como conta minha mãe, papai todas as vezes que ia á cidade trazia-me maçãs iguais ás da Branca de neve e um pacotão de balas 7 Belo.Que delícia!Era um luxo.Eu me fartava delas e jogava as que já não me cabiam mais aos porcos.Ficava á beira do chiqueiro observando pacientemente a porcada se deliciar com minhas guloseimas.Até então, eu era a bonequinha da casa de barro.Mas, mamãe ficou grávida,estava esperando nenê.Também quem me mandou ficar com aquela palhaçada de pedir a um avião que raramente lembrava de sobrevoar por ali , que trouxesse um nenê pra mim.Agora, não ia mais ser só eu.Já havia me conformado, mas não entendia por que minha estava com um barrigão tão grande, se era o avião que ia trazer o nenê .Minha irmãzinha nasceu e nada de avião chegar.E não chegou.Sandra era um bebezinho não diria bonito, achava a carinha dela meio roxa, mas fofinha.Eu queria cuidar dela, mas mamãe não permitia.Aliás, mamãe, nem ninguém me enxergava mais, só o bebe que importava.Mas era certo, ela era certo.Sandrinha não tinha como se virar, né? Todos nós deveríamos cuidar dela, segundo mamãe, eu já era grandinha...Acho que foi aí que começaram meus primeiros sintomas de rejeição.Não tinha que pedir atenção, eu era grande, não merecia mais afeto.Ficava triste.
1974-